segunda-feira, 9 de abril de 2012

Sobre sofrimentos...


“O sintoma somático oferece o máximo de garantia a esse desconhecimento”. Lacan, J.

O sintoma em psicanálise tem uma fundamentação teórica e tem sua função. Quando adoecemos, sentimos dor, queremos um remédio, algo que tire isso de nós. O corpo, na busca de uma homeostase foge do desprazer. Contemporaneamente, vivemos em um mundo que visa respostas imediatas e soluções mirabolantes para todos os males. “Tirem de mim essa dor, essa tristeza, essa inércia. Me dêem força, energia, amor. Quero a pílula da felicidade".

Leio todos os livros de auto-ajuda, faço terapia que me impõe uma série de exercícios para eu consertar meus defeitos e problemas, vou regularmente ao psiquiatra e tomo medicações que me deixam com a boca seca, tremedeiras, enjoos, taquicardias, suores. Tudo isso porque estou em sofrimento e quero acabar com essa isso. Acredito que alguém ou alguma coisa vai tirar isso de mim. Então, trato dos meus sintomas com remédio. Se perdi alguém que muito amei também. Trato meu luto com pílulas. Sujeitos com alto grau de sofrimento psíquico, com delírios de várias ordens, talvez precisem de uma medicação. Não se trata de radicalismos mas sim, de ética.

Pois bem, o sintoma em psicanálise aparece e fica pulsando várias vezes de diversas formas:
Pode ser uma dificuldade de dormir que se repete, um excesso ou falta de apetite,  uma angústia referente ao que pensamos que o outro pensa. O sintoma pode se manifestar também na forma como nos relacionamos com o dinheiro,  com o sexo, com a morte, com o amor.
Os mais atuais referem-se à famosa síndrome do pânico, às depressões, aos distúrbios alimentares e às dificuldades de relacionamento.
O sintoma pode aparecer no corpo sob a forma de dores, gastrite, doenças de pele, dificuldades respiratórias. Às vezes, uma doença é só uma doença, mas pode não ser só isso.
O sintoma revela uma verdade, denuncia algo que manca, que não vai bem e que está pulsando. A reação mais comum quando nos deparamos com o sofrimento é querer expulsá-lo. Porém, não é tão simples. A maioria das pessoas querem uma rápida solução. Afinal, vivemos em um mundo que visa o lucro. Não devemos perder tempo em saber mais de nós mesmos. Temos que produzir, produzir, acumular, fazer, atuar. Não temos tempo para nós, para saber sobre o que nos faz sofrer.
A forma de vida atual favorece o aparecimento de novos sintomas e exige do sujeito soluções imediatas. Para tal fato, a idéia de que um remédio seja a melhor coisa do mundo cai bem. Outra idéia, de que, reprogramando o cérebro, estaremos nos ajudando a não sofrer.
 O problema é que mesmo fazendo tudo que me mandam, orientam, eu continuo sofrendo. Pode melhorar o sintoma mas ele volta, retorna. Ele não me larga! Que acontece?

Ninguém tira o nosso sofrimento. Essa verdade é muito dura. Uma forma de tornar nossas dores, nossos "bichos papões" menores, é saber mais sobre eles. Mas não um saber que vem do outro, que vem de fora. Um saber que se constrói em uma análise e que se adquire para sempre. Somos alienados de nós mesmo não sabendo o que nos motiva, o que nos faz desejar, o que nos faz parar, o que nos angustia.
Até podemos reconhecer que precisamos de ajuda mas não buscamos realmente. Apostamos nossas fichas em alguém que vai nos livrar porém, infelizmente, não livra. Somos prisioneiros de ideais.

A angústia faz parte da vida. O que podemos em uma análise dentre várias coisas, é conviver melhor com ela. Isso já é muito. Isso é ética!






segunda-feira, 26 de março de 2012

Análise é para quem?


Para todos os seres humanos que quiserem se empreitar em uma jornada.
Para todos que sofrem.
Para todos que se angustiam, se paralisam na vida.
Para todos que tenham alguma questão.
Para todos que perderam algo ou alguém querido.
Para todos que querem construir um saber mais de si.
Para todos que precisam tomar alguma decisão na vida.
Para todos que precisam reescrever sua história.
Para todos que desejem se reinventar.

Porém,
Alguns querem saber mais.
Alguns ainda acham que análise é para louco, fraco, problemático.
Alguns não querem pagar o preço de sustentar o desejo
Alguns não conseguem confiar em ninguém
Alguns criticam a psicanálise.
Alguns têm muito medo.
Alguns se posicionam na vida de maneira a se sabotar, colocando obstáculos.
Alguns avançam após a coragem de fazer esta viagem.

Nem todos se dispõem

Mas todos que fazem, com algum analista (ético, estudioso, que levou sua análise á termo) em que confiam, adquirem um saber que não está nos livros, na palavra do médico, da mãe, do amigo, do parceiro. Um saber que será um ganho para toda a vida.

E o sofrimento? Vai passar? Deixar de existir? Essas perguntas, provavelmente não serão feitas após uma análise. Sabe porque? Porque o sofrimento não mais existirá?
Resp: Negativa. O sofrimento é para todos. Após uma análise, mudamos nossa relação com ele.  Algo cai após uma análise.



Benefícios de um tratamento psicanalítico!


Muita gente acha que uma análise deve durar anos como nos tempos freudianos...

Não necessariamente.

O que uma análise pode transmitir é:

-O outro é outro. Não sabemos o que o outro pensa. Quando de fato, “cai” essa ficha, os problemas na ordem de relacionamento melhoram. Muitas vezes, sofremos por imaginar como o outro nos olha.

-O outro não sabe de nós. Quando estamos em angústia, com algum sofrimento, achamos que alguém vai saber de nós e nos dizer o que devemos fazer. Muitas pessoas não ficam na análise, interrompem quando se dão conta de que o analista não orienta, não dirige, não diz o que devemos fazer. O analista escuta, faz ou fez análise, faz supervisões, estuda e tem um saber que diz respeito ao inconsciente. Ele sabe do inconsciente dele e é isso que o torna alguém capaz de ouvir e de ajudar. Isso, também o torna humilde no sentido de não se colocar em uma posição daquele que sabe.

-Somos responsáveis pelas nossas escolhas. Se o analista não está em um lugar de saber o que é bom para o outro, ele propicia que o analisante construa o seu caminho com as possibilidades que possui. Ele calcula sempre com margem de erro, o quanto um sujeito pode se responsabilizar pelos seus atos, sintomas e escolhas.

- A ética da psicanálise não é uma ética da moral, mas sim, do desejo.

-A possibilidade de rir do nosso ridículo. Traduzindo, uma análise transmite leveza.

Os benefícios de uma análise são inúmeros. Desde mudanças práticas na vida, no dia a dia, passando pela tradução dos sintomas e consequentemente um alívio ao sofrimento até o desejo de querer saber mais e mais de si. A pessoa começa a questionar o modo de vida, a morte, o amor, a família, o lugar no mundo e o que deseja.

A pessoa percebe que pode ser mais genuína e verdadeira consigo o que podemos considerar um dos maiores ganhos!
As mudanças que são alcançadas em análise são para toda a vida. São mudanças qualitativas!!!!!

sábado, 24 de março de 2012

Como funciona uma análise?


1)Tratamento: O poder da fala

O tratamento psicanalítico se dá pela via da fala. A regra fundamental é: "Fale o que lhe vier à cabeça"! Para que isso ocorra, é preciso que o analisante coloque o analista em um lugar de alguém que tem um certo saber. Assim como quando se vai a um médico, tarólogo, pai de santo, padre, rabino, xamã. A ideia inicial é que o outro sabe. Desde já, no entanto, destaco que o analista não sabe. O saber está no próprio analisante! Uma posição humilde, pois, de fato, não sabemos do outro, não tiramos sofrimento de ninguém. Apenas ajudamos. Mas como? Como a psicanálise ajuda então?

2) Ajudar: O poder da escuta

Como o analista sabe que não sabe do outro, desde o início de um tratamento ele se coloca como alguém que pode ajudar, mas não no sentido de ajuda que conhecemos. A ajuda se dá pela via da escuta. Em sua escuta flutuante, o analista (que deve ser analisado  ou estar em análise) tem um saber inconsciente. Um saber de si que é essencial para ajudar o outro. Através de intervenções, silêncios e perguntas, ele ajuda o analisante a falar mais e mais até que o que é realmente importante é dito. Esse importante, não é o que importa ao analista, mas sim, ao sujeito que diz. Neste momento, podemos pensar no conceito de cura que se liga à fala justa.

3)Cura: O poder do amor

O analista não é um médico que dá alta. Não é um psicólogo que avalia, não é um curandeiro que tira a dor do outro. Para a psicanálise, a cura vem do próprio sujeito que busca um tratamento. Ele se cura principalmente pela fala, pelo amor e pela responsabilidade de seu desejo. Mas, que amor é esse? Jacques Lacan, psicanalista francês, coloca: “Amar, é dar o que não se tem”. Ou seja, amar, é dar a falta. Começamos a entrar no terreno de como a psicanálise entende o ser humano.

4)Entendimento do ser humano: O poder do outro

Somos seres desamparados desde o nascimento. Pelo fato de dependermos de outra pessoa desde que nascemos, apresentamos um estado faltoso. Precisamos do outro para nos cuidar, nos dar palavras, nos educar, nos olhar, nos amar. A questão é que nem todos receberam palavras, cuidados e foram olhados e amados como necessitavam. Aqui, começam alguns sofrimentos.

Dando um salto, de uma forma geral, a psicanálise entende que o ser humano é um ser de fala, linguagem, que é marcado desde antes do seu nascimento por palavras dos pais que já indicam a posição da pessoa no mundo. Por exemplo, a mãe diz que terá um filho forte, que será médico, advogado, será alguém importante....

O sujeito já nasce neste cenário preparado pelos pais e se posicionará na vida sendo médico, ou fazendo questão de não ser. Em uma análise, o sujeito vai se descolando da fala dos pais ou do que captou dos pais para poder ser ele mesmo.

Este ser que já nasce com um lugar marcado (mesmo que seja o da exclusão, por pais que não desejavam) é um ser de falta. Se algo nos falta, temos desejo. Ou seja, só desejamos porque a falta existe e ela é para todos. A psicanálise provoca e convida o sujeito a falar de sua falta e consequentemente de seu desejo. O modo como nos relacionamos com nosso desejo, diz muito das nossas possibilidades de vida e de sofrimento.














A psicanálise, de que trata?


Pergunta complexa para ser respondida em algumas poucas linhas.É algo singular. Cada um vivencia uma análise a seu modo, sempre único. Afinal, somos o que somos!
Cada ser humano que se propõe a se analisar, com certeza, terá uma jornada de trabalho. Uns querem alguém que lhes diga o que são, como são. Como cada um busca um saber de si vai depender das singularidades. Fazer análise tem relação com saber de si.

O que é saber de si? Para cada um pode ser uma coisa. Por exemplo, a pessoa pode descobrir coisas que gosta. Parece tão simples, mas muitos não sabem. Pode descobrir o que sente em relação à própria história, aos outros. Alguém pode descobrir que aquele sintoma/ sofrimento tem relação com uma fala do pai ou da mãe. Pode-se descobrir o que significa aquela insônia, aquela crise de pânico, um sentimento de alegria em um momento inoportuno, que significa uma insatisfação constante.

Uma análise oferece a possibilidade de  um ser humano fazer inúmeras descobertas! Mas, de que servem? Para quê? Porque saber mais de si? Em que isso ajuda meu sofrimento?

O saber de que se trata em uma análise é um saber do inconsciente. Essa espécie de “entidade” que é o inconsciente nós incorporamos em alguns atos. Por exemplo quando nos perguntamos porque fizemos tal coisa, porque somos tão incoerentes. Porque sofremos com coisas que julgamos muitas vezes desnecessárias?
O inconsciente nos “atravessa”. Ele se manifesta na nossa fala, nos nossos sonhos, nos nossos chistes, ele está sem ser visto. Ele nos causa sofrimentos porque muitas vezes nos faz querer coisas que racionalmente, não queremos. Aí começam os sofrimentos. Conflitos.

O tratamento psicanalítico ajuda o sujeito se relacionar melhor com a angústia. A pessoa saberá mais não só do que sofre, mas também, do que realmente deseja! Isso é muito! Quantos de nós não sabemos para onde vamos? Saber o que nos causa, o que nos faz sair do lugar é um ganho qualitativo para a vida! É a chance de não paralisação na vida!!!!!!!!!!