1)Tratamento: O poder da fala
O tratamento psicanalítico se dá pela via da
fala. A regra fundamental é: "Fale o que lhe vier à cabeça"! Para que isso ocorra, é preciso
que o analisante coloque o analista em um lugar de alguém que tem
um certo saber. Assim como quando se vai a um médico, tarólogo, pai de santo,
padre, rabino, xamã. A ideia inicial é que o outro sabe. Desde já, no entanto,
destaco que o analista não sabe. O saber está no próprio analisante! Uma
posição humilde, pois, de fato, não sabemos do outro, não tiramos sofrimento de
ninguém. Apenas ajudamos. Mas como? Como a psicanálise ajuda então?
2) Ajudar: O poder da escuta
Como o analista sabe que não sabe do outro,
desde o início de um tratamento ele se coloca como alguém que pode ajudar, mas
não no sentido de ajuda que conhecemos. A ajuda se dá pela via da escuta. Em
sua escuta flutuante, o analista (que deve ser analisado ou estar em análise) tem um saber
inconsciente. Um saber de si que é essencial para ajudar o outro. Através de
intervenções, silêncios e perguntas, ele ajuda o analisante a falar mais e mais
até que o que é realmente importante é dito. Esse importante, não é o que importa
ao analista, mas sim, ao sujeito que diz. Neste momento, podemos pensar no
conceito de cura que se liga à fala justa.
3)Cura: O poder do amor
O analista não é um médico que dá alta. Não é
um psicólogo que avalia, não é um curandeiro que tira a dor do outro. Para a
psicanálise, a cura vem do próprio sujeito que busca um tratamento. Ele se cura
principalmente pela fala, pelo amor e pela responsabilidade de seu desejo. Mas,
que amor é esse? Jacques Lacan, psicanalista francês, coloca: “Amar, é dar o
que não se tem”. Ou seja, amar, é dar a falta. Começamos a entrar no terreno de
como a psicanálise entende o ser humano.
4)Entendimento do ser humano: O poder do outro
Somos seres desamparados desde o nascimento.
Pelo fato de dependermos de outra pessoa desde que nascemos, apresentamos um
estado faltoso. Precisamos do outro para nos cuidar, nos dar palavras, nos
educar, nos olhar, nos amar. A questão é que nem todos receberam palavras,
cuidados e foram olhados e amados como necessitavam. Aqui, começam alguns
sofrimentos.
Dando um salto, de uma forma geral, a
psicanálise entende que o ser humano é um ser de fala, linguagem, que é marcado
desde antes do seu nascimento por palavras dos pais que já indicam a posição da
pessoa no mundo. Por exemplo, a mãe diz que terá um filho forte, que será
médico, advogado, será alguém importante....
O sujeito já nasce neste cenário preparado
pelos pais e se posicionará na vida sendo médico, ou fazendo questão de não ser.
Em uma análise, o sujeito vai se descolando da fala dos pais ou do que captou
dos pais para poder ser ele mesmo.
Este ser que já nasce com um lugar marcado
(mesmo que seja o da exclusão, por pais que não desejavam) é um ser de falta.
Se algo nos falta, temos desejo. Ou seja, só desejamos porque a falta existe e
ela é para todos. A psicanálise provoca e convida o sujeito a falar de sua
falta e consequentemente de seu desejo. O modo como nos relacionamos com nosso
desejo, diz muito das nossas possibilidades de vida e de sofrimento.